sábado, 10 de abril de 2010

Imprevisivelmente- Luana A.

E depois de discussões não resolvidas, insultos ditos, tapas na cara, afastamentos forçados, distância, pais, palavras, músicas. Depois de momentos marcantes, inesquecíveis. E depois de muito tempo, elas se reencontram. Encontram o olhar uma na outra, encontram a saudade, encontram o amor enterrado por não saberem cuidar.
Se esbarram na praça, distraídas. Se xingam, resmungam e se olham. Se olham. Nesse momento, o mundo pára, gira, perde voz, perde tempo, perde paisagem, perde pessoas, perde o sol. Ficam só elas num oásis branco, nulo, incógnito e trêmulo. Só elas.

Seus olhares se batem no ar como ondas magnéticas de calor, elas tremem, amolecem, sentem calafrios, respiram fundo, piscam. E a realidade volta. Se encontram. Estão na praça onde se conheceram, onde deram o primeiro beijo, primeira briga e a separação traumática. Se encontram. Anos depois na praça onde se trombaram, onde se xingaram, resmugaram e trocaram sua segunda troca de olhar que as fizeram se apaixonar novamente.

Não precisaram de muitas palavras para se reapresentarem. Conversaram, trocaram novidades, a mãe de uma tinha morrido, o pai da outra também, uma ganhou um pastor alemão, a outra ganhou um gato siamês. As coincidências eram assustadoras, pois fora assim que elas se descobriram uma na outra. No oposto encontraram um encosto. No oposto encontraram o equilibrio.

Elas continuavam lindas, continuavam esplendorosas. Um brilho diferente em cada olhar, um corpo diferente em cada uma, os mesmos cabelos compridos, os mesmos toques suaves, mesmas vozes silenciadoras e intimidadoras. Iguais, mas diferentes.

Certo momento, o silêncio toma conta da boca delas. Não se fala nada, não se expressa nada. E cria o clima. O mesmo clima que faz o coração bater mais rápido e você respirar ofegante. E uma delas não quer deixar esse clima passar, tomou sua atitude. Olhou bem e se aproximou. E nesse momento um vento bateu e trouxe à sua memoria o mesmo perfume da adolescência. Tal perfume que a fez ter sonhos impossíveis.
Aproveitando esse perfume ela põe sua mão sob o queixo de seu sonho encarnado e tenta fazer com que seu olhar chegue ao dela e que a faça permitir esse beijo tão aguardado. Ela se aproxima de seu rosto, olha em seus olhos, acaricia com o nariz sua buchecha, pega sua mão e sem dizer nada, chega perto de seus lábios. Lábios vermelhos, carnudos, com cheiro de bala.
-Pára!!- Um ar de dúvida paira no ar- Não quero.- O olhar se desvia para o chão e ela se distancia.
-Por que??- Sentindo o perfume novamente, ela se decepciona e pergunta conformadamente triste.
Ela não responde.
Ela se aproxima de novo, pega em suas suaves e macias mãos e pergunta: -Por que, anjo?!
Ela só olha.
Seu nariz encosta no dela novamente e assim ela pretende ficar.
-Não vou fazer isso. Não vou cometer de novo o mesmo erro. A gente não deveria ter nos encontrado. Vai embora!
-Não vou embora. Disse pra você que nunca iria embora da sua vida. E não vou embora, eu voltei e estou aqui!
-Mas, nunca pedi pra que você ficasse sempre na minha vida.
Um olhar assustado e indignado surge: -Eu quero você. Quero de novo você! Quero seu gosto, quero seu perfume, quero seu abraço, suas mãos, quero seu nariz, seus lábios com gosto de bala, quero seu corpo, quero ser seu ar, quero ser seu oposto, seu encosto, quero de novo ser seu coração, quero de novo ter seu coração. Quero você. Quero seu beijo!
Um olhar assustado e indignado surge: -Você não aprende nunca. A gente não pode ficar juntas. Devemos ter nossas vidas, separadamente.
Ela mantém a concentração, mantém seu nariz próximo o bastante do rosto, onde possa sentir seu hálito doce e sua respiração nervosa! Ela tenta transmitir frieza e indiferença no meio do clima que se forma. A praça começa a ficar vazia, o sol se põe, os pássaros cantam e a noite começa a chegar.
-Não vou desistir de você, como nunca desisti.- E nesse momento suas mãos passam a acariciar o rosto dela.
-Vai embo...- E a frase é interrompida com um beijo roubado.

Ela sabia que o que ela mais queria era o beijo. Quer mais que o seu oposto pra te conhecer melhor que você? E o beijo foi roubado ou foi dado? O beijo aconteceu. O beijo mais intenso, mais forte, mais sincero. Um beijo molhado, devagar, cheio de saudade. Um beijo com desejo, com tesão, com amor. Um beijo paradoxalmente selvagem. Um beijo que veio à memória das duas seus planos do passado, suas risadas do passado, suas horas de amor na cama. Os momentos ruins foram apagados. O beijo curou o passado. O beijo mostrou um novo presente. O beijo possibilitou um novo futuro. E novamente o mundo gira e dá à elas a possibilidade de pensar que o beijo está durando uma eternidade. E ele é interrompido por um tapa.

Um tapa. Um olhar. Uma frase. Eu te amo. E o beijo novamente.

O tapa serviu de aviso, como quem diz: Não suma mais, não quero que você vá embora. E o beijo serviu para mostrar que o amor não está enterrado e que elas souberam cuidar dele. Da maneira delas.
Da mesma forma que ele aparece, o amor renasce. Imprevisívelmente.


(28/12/09)

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Esse é um dos meus textos favoritos*---------*!!! Fiz numa madrugada nas férias. Nesse dia fiz dois textos, o anterior e esse!

Pretendo fazer mais iguais... mas e a pri?!!? saiuhsuishas

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