sábado, 29 de junho de 2013

Adeus você

Adeus você!
Eu hoje vou pro lado de lá.
Eu to levando tudo de mim que é pra não ter razão pra chorar.
Vê se te alimenta e não pensa que eu fui por não te amar.
Cuida do teu pra que ninguém te jogue no chão.
Procure dividir-se em alguém, procure-me em qualquer confusão.
Levante e te sustente e não pensa que eu fui por não te amar.
Quero ver você maior, meu bem!
Pra que minha vida siga adiante.
Adeus você!
Não venha mais me negacear, teu choro não me faz desistir, teu riso não me faz reclinar.
Acalma essa tormenta e se aguenta que eu vou pro meu lugar.
É bom as vezes se perder sem ter porque sem ter razão.
É um dom saber envaidecer por si, saber mudar de tom.
Quero não saber de cor, também.
Pra que minha vida siga adiante.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Ela vai.

Ela vai ser engraçada. Vai te fazer rir.
Ela vai fazer com que você sinta a necessidade de rir mais um pouco todo dia.
Vocês vão conversar mais e rir de tudo no final.
Ela vai falar mau das exs pra fazer você se sentir bem, como se fosse única.
Vai pedir conselhos em como lidar com a perseguição das mesmas.
Ela vai dizer o quanto sexo é importante e completar que nenhuma de suas exs saciava isso nela.
Vai dizer isso pra você se sentir esperançosa, inclusive te dará dicas em como agradá-la sexualmente.
E vocês vão rir.
Ela vai dizer o quanto a relação com seus pais é dificil e como o mundo é injusto com ela.
Ela vai reclamar do curso que esta se formando e vai dizer que esta em duvida se fará necropsia ou não. E pedirá seu conselho. Você dirá e ela fará o oposto.
Ela começará a te moldar, dizer como você deve agir com ela em diferentes situações. Claro que de uma forma muito discreta. Finja que você esta prestando atenção.
Ela será fofa de vez em quando, porém de formas marcantes.
Ela dirá coisas bonitas.
Ela fará brincadeiras e você vai rir mais um pouco.
Vocês irão se conhecer.
Ela irá te apresentar aos amigos dela, que mais tarde virarão a cara pra você.
Ela te fará se sentir em casa.
Te apresentará aos pais dela e eles serão muito simpáticos a principio.
Ela fará gracinhas pra te ver prestando atenção nela.
E você se sentirá intimidada, não conseguirá dizer uma palavra direito.
Ela vai comentar sobre a intolerância a lactose que ela tem e o quanto é difícil agradá-la no paladar.
Vai dizer que come de tudo e depois dizer que não come nada.
Vocês vão se beijar. E será o beijo mais doce, gentil e carinhoso que você já provou.
E dormirão na primeira conchinha repleta de expectativas, repleta de esperanças e repleta, sobretudo, de um amor recém nascido e inocente!
Vocês vão acordar. E vai estar tudo lindo.
Ela vai te pedir pra trazer a caneca do Beatles com café e enquanto isso ela estará deitada na cama com o pc no colo.
Ela vai fazer voz de criança, abrindo os braços e dizendo: ''Vem, entra no meu mundo''. E você entrará!
Vocês vão fazer planos pra aquele dia inteiro e no final não farão nada. Ficarão assistindo filmes de terror em casa.
Vocês vão sair um dia e a cada três passos, cumprimentará alguém na cidade que ela conhece, inclusive suas/seus exs que ela falou mau acima.
Ela vai andar como se estivesse desfilando, acentuando bem os ombros, levantando um, descendo o outro, um passinho a frente do outro, uma reboladinha tímida e uma olhadinha de lado.
Ela vai falar que sua cachorro é agora filha de vocês.
Ela te beijará e você sentirá a vontade de tocar sua pele sem a roupa. E você fará isso!
Ela te parará e dirá o que você não deve fazer, de novo. E você ficará nervosa.
No final, ela vai te elogiar.
E dormirão.

E agora vocês acordam diferentes e o dia fica diferente.
Ela vai brigar com você por causa de foto no pc, por causa de gente no facebook, por causa de gente no twitter, por causa de perguntas no ask, por causa. Por causa. Por causa. Por causa.
Você tentará se explicar, mas seus argumentos acabarão. E ela de alguma forma fará você parecer completamente errada.
Você pedirá desculpas, porque é difícil ignorá-la.
Farão as pazes.
E a partir da agora é singular.
Ela vai te pedir e você vai fazer.
Você vai pedir e ela não vai fazer.
E vocês terão a pior briga que poderia existir.
Você volta em prantos.

Quando voltam a se ver, parece estar tudo ok!
Ela esta se dedicando, ela esta fazendo por você.
Ela esta mais calma. Idem você.
Ela vai ser mais carinhosa.
Ela vai aprender a cozinhar por/pra você.
Ela vai mudar.
Ela vai.
Sem mais, nem menos ela vai.
E foi.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Talvez (não) última


Dores.

Não carrego mais o peso de nada hoje. Sou livre. Estou leve.
Antes vivia com o fantasma da dor de saber que possivelmente poderia estar te fazendo mal, te magoando. Isso sendo verdade ou não, hoje não carrego mais essa dor. E isso é muito bom!
Carrego a dor de uma saudade sem fim e sem findará. Sem fim dará. Dará. Dará apenas saudades.
Bom me livrar dos fantasmas que carregava de achar que estava te fazendo bem quando na verdade não estava. Mas, o que eu estava fazendo? Você? Realmente fiz?
Por que não me sai da cabeça que foi tudo em vão?
Que seu amor nunca foi verdadeiro?
Que seu carinho sempre foi vão?
E que suas palavras nunca convenceram?
Já não importa. Já não faz mais diferença.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Planos e tempo


São tantos planos. E tão pouco tempo.
E todos eles eu gastei com você, ou pelo menos quase. Tanto o tempo, quanto os planos.
O tempo que se gasta fazendo planos e os planos que se fazem em questão do tempo.
Os planos que levam tempo para planejar, os planos que levam tempo para acontecer.
O tempo que preciso pra planejar, o tempo que foi planejado.
Tudo com você. Foi antes, foi durante e, por um tempo, foi depois.
O tempo, o plano, você.
Você, o tempo, o plano.
O plano, você, o tempo.
E foi isso.
E agora? O que restou? O que me serve? O que me é tempo? O que me é plano?
Plano? Plano foi o que a gente nunca foi. Plano. Nem raso. Ou éramos planaltos ou éramos depressões absolutas.
Plano? Era minha área de conforto que eu abandonei por um terreno inconstante. Fui ao fundo do poço em questão de tempo e voltei dele em uma demora do tempo. Tempo?
Tempo? Foi o que a gente não soube esperar. Manejar. Mas, sabíamos. Se fôssemos devagar demais, o tempo pararia e junto, nós. Comemos os ponteiros.
Tempo? Era o que eu queria que passasse mais devagar possivel. Mas, comemos as horas, os meses. O tempo.
Me restou algo? Sim. Evito as angústias e crises de raiva. Me sobra alguns poucos momentos bons. Como as noites em que a lua ficava na sua janela iluminando o quarto. As noites que sentia sua respiração na minha mão e assim, palpar sua vida, saber que está bem. As noites que o encaixe era do meu nariz no seu cabelo, meu seio nas suas costas, minhas pernas entrelaçadas nas suas.
Os dias que ríamos de coisas bobas, como a forma que você me apoiava enquanto eu lavava a louça. Os dias que éramos apenas duas!
E agora?
Agora ainda somos duas, cada uma em seu mundo. Mundos que talvez não deveriam ter se encontrado. Não agora. Não por nada. Não dessa forma. Não assim.
E assim permanecerá.
Reerguerei planos, farei tempo, criarei planos, planaltos e depressões, poços, relógios. Sozinha.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

E a vida la fora, me chama.

Eu também tive meu coração machucado. Me dei mal, meu bem, ninguém escapa. Mas o bom disso tudo é que agora consigo abrir meu coração sem rodeios. Mas tudo esta bem agora! Houve uma mudança de planos e eu me sinto incrivelmente leve e bem. Descobri tantas coisas. Existe tanta coisa mais importante nessa vida que sofrer por amor. Que viver um amor. Tantos amigos. Tantos lugares. Tantas frases e livros e sentidos. Tantas pessoas novas. Indo. Vindo. Tenho só um mundo pela frente. E olhe pra ele. Olhe o mundo! É tão pequeno diante de tudo o que sinto. Sofrer dói. Dói e não é pouco. Mas faz um bem danado depois que passa. Descobri. Mas agora, com sua licença. Não dá mais pra ocupar o mesmo espaço. Meu tempo não se mede em relógios. E a vida la fora, me chama.
(CFA)

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Buarque-se


O que se vai, volta

Hey garota, ela é tudo o que você queria em uma mulher?
Você sabe que eu te dei o mundo, você me teve na palma da sua mão, então por que seu amor se foi? Eu não consigo entender! Pensei que fosse eu e você, eu e você até o fim, mas eu acho que estava errada!
Não quero pensar sobre isso, não quero falar disso, eu estou tão cansada disso. Não acredito que acabou desse jeito. Só estou confuso sobre isso. Eu apenas não posso ficar sem você, me diga, isso é justo?
É assim mesmo que esta acabando? É assim que a gente se diz adeus?
Deveria ter te conhecido melhor quando você apareceu, deveria saber que você iria me fazer chorar. Machuca meu coração te ver por ai, porque eu sei que você esta vivendo uma mentira. Mas tudo bem baby, porque na hora você vai ver. O que se vai, faz todo o caminho de volta!
Agora garota, eu me lembro de tudo que você reclamava, você disse que estava partindo pra outra agora. Talvez eu devesse fazer o mesmo. O engraçado disso é que eu estava pronta pra te dar meu sobrenome. Pensei que era eu e você, agora tudo é uma vergonha que eu acho que estava errada.
Você passa suas noites sozinha e ela nunca chega em casa. E toda vez que você liga pra ela, só da ocupado. Ouvi dizer que você percebeu que ela esta fazendo com você o que você fez comigo. Não é assim que funciona!! Quando você me traiu, meu coração sangrou, garota!! Então continuo sem dizer que deveria deixar o sentimento machucar. É apenas um enredo de um caso classico. Diz  que é sempre o tempo. Garota, você teve o que mereceu!! E agora você quer alguém pra curar as noites sozinha. Você deseja ter alguém que poderia chegar e fazer tudo certo. Mas, garota eu não sou alguem! To fora de suas migalhas, veja: O que se vai, faz o caminho de volta, pensei que tivesse te falado. Você devia ter me ouvido baby!!

http://www.youtube.com/watch?v=TOrnUquxtwA

Leminski-se


Condicional.

Quis nunca te perder, tanto que demais via em tudo céu. Fiz de tudo cais, dei-te para ancorar doces deletérios e quis ter os pés no chão. Tanto eu abri mão que hoje eu entendi, sonho não se dá. É botão de flor, o sabor de fel é de cortar.
Eu sei, é um doce te amar. O amargo é querer-te para mim. Do que eu preciso é lembrar, é me ver antes de te ter e de ser teu, muito bem.
Quis nunca te ganhar, tanto que forjei asas nos teus pés, ondas pra levar. Deixo desvendar todos os mistérios. Sei, tanto te soltei que você me quis em todo lugar, lia em cada olhar. Quanta intenção! Eu vivia preso.
Eu sei, é um doce te amar. O amargo é querer-te para mim. Do que eu preciso é lembrar, é me ver antes de te ter e de ser teu. O que eu queria, o que eu fazia, o que mais? E alguma coisa a gente tem que amar, mas o que não sei mais.
Os dias que me vejo só são os dias que me encontro mais. E mesmo assim, eu sei também, que existe alguém pra me libertar.

Quem não quer sou eu


Eu até pensei que fosse terminar na cama como era de costume entre você e eu. Eu fiz de tudo, mas era tarde. Foi o que eu podia dar, você não entendeu. Eu quis ir fundo e você com medo. Pois é.

Tudo que vai


Tudo que vai! Deixa o gosto, deixa as fotos, quanto tempo faz? Deixa os dedos, deixa a memória.. eu nem me lembro mais.

quinta-feira, 7 de março de 2013

A um passarinho

Para que vieste
Na minha janela
Meter o nariz?
Se foi por um verso
Não sou mais poeta
Ando tão feliz!!
Se é para uma pessoa
Não sou Anchieta
Nem venho de Assis.

Deixa-te de histórias
Some-te daqui!

Soneto de véspera

Quando chegares e eu te vir chorando
De tanto te esperar, que te direi?
E da angustia de amar-te, te esperando
Reencontrada, como te amarei?

Que beijo teu de lagrimas terei
Para esquecer o que vivi lembrando
E que farei da antiga magoa quando
Não puder te dizer por que chorei?

Como ocultar a sombra em mim suspensa
Pelo martirio da memoria imensa
Que a distancia criou - fria de vida.

Imagem tua que eu compus serena
Atenta ao meu apelo e à minha pena
E que quisera nunca mais perdida...

Trecho

Quem foi, perguntou o Celo
Que me desobedeceu?
Quem foi que entrou no meu reino
E em meu ouro remexeu?
Quem foi que pulou meu muro
E minhas rosas colheu?
Quem foi, perguntou o Celo
E a Flauta falou: Fui eu.

Mas quem foi, a Flauta disse
Que no meu quarto surgiu?
Quem foi que me deu um beijo
E em minha cama dormiu?
Quem foi que me fez perdida
E que me desiludiu?
Quem foi, perguntou a Flauta
E o velho Celo sorriu.

Ternura

Eu te peço perdão por te amar tão de repente
Embora meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo.
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhas extatico da aurora.

Ausência

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces.
Porque nada te poderei dar senão a magoa de me veres eternamente exausto.
No entanto, a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida e eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados.
[...]
Eu deixarei... tu irás e encostarás tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas, tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande intimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essencia do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos.
Mas eu te possuirei mais que ninguém porque poderei partir e todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Não saber

Não saber. Existe troço pior que não ter noticias da pessoa amada, agora que ela vaga por aí cheia de vida enquanto você tenta soterrá-la no seu peito com pás e mais pás de festas chatas e romances sem ciumes?

A dança



Não fui conforme a dança, fui conforme o que eu queria. E eu queria te fazer feliz e errei o passo.

Nuvens



Nós dois temos os mesmos defeitos, sabemos tudo a nosso respeito, somos suspeitos de um crime perfeito, mas crimes perfeitos não deixam suspeitos.
Pra ser sincero, não espero que você me perdoe por ter perdido a calma.
Um dia desses, num desses encontros casuais, talvez a gente se encontre, talvez a gente encontre explicação

[...]




You must follow your heart.

Perfeita Simetria

Toda vez que toca o telefone eu penso que é você. Toda noite de insônia eu penso em te escrever, pra dizer que o teu silêncio me agride e não me agrada ser um calendário do ano passado. Pra dizer que teu crime me cansa e não compensa entrar na dança depois que a música parou.
Toda vez que toca o telefone eu penso que é você. Toda noite de insônia eu penso em te escrever. Escrever uma carta definitiva que não dê alternativa pra quem le. Te chamar de carta fora do baralho, descartar, embaralhar você e fazer você voltar ao tempo que nada nos dividia.
Havia motivo pra tudo e tudo era motivo pra mais. Era a perfeita simetria, éramos duas metades iguais!
O teu maior defeito talvez seja sua perfeição, tuas virtudes, talvez não tem solução. Então pegue o telefone ou um avião, deixe de lado os compromissos marcados, perdoa o que não puder ser perdoado, esquece o que não tiver perdão e vamos voltar aquele lugar, vamos voltar!

Era a perfeita simetria, eramos duas metades iguais.

adeus


Infinito meu


Caberá ao nosso amor o que há de vir!

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Then you can tell me goodbye

Beije-me todas as manhãs por um milhão de anos

Segure-me cada noite ao seu lado
Me diga que você me ama por um milhão de anos
Então, se isso não funcionar
Então, se isso não funcionar
Então você pode me dizer adeus.

Adoçe o meu café da manhã com um beijo
Suavize os meus sonhos com o seu suspiro
Diga-me, você me ama por um milhão de anos
Então, se isso não funcionar

Então, você pode me dizer adeus

Mas, se você deve ir eu não vou dizer "não"
Só assim, podemos dizer que tentamos.

Diga-me você me ama por um milhão de anos
Então, se isso não funcionar
Então, se isso não funciona
Então você pode me dizer adeus

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Vai passar

Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está ai, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada "impulso vital". Pois esse impulso às vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te supreenderás pensando algo como "estou contente outra vez". Ou simplesmente "continuo", porque já não temos mais idade para, dramaticamente, usarmos palavras grandiloqüentes como "sempre" ou "nunca". Ninguém sabe como, mas aos poucos fomos aprendendo sobre a continuidade da vida, das pessoas e das coisas. Já não tentamos o suicidio nem cometemos gestos tresloucados. Alguns, sim - nós, não. Contidamente, continuamos. E substituimos expressões fatais como "não resistirei" por outras mais mansas, como "sei que vai passar". Esse o nosso jeito de continuar, o mais eficiente e também o mais cômodo, porque não implica em decisões, apenas em paciência.

Claro que no começo não terás sono ou dormirás demais. Fumarás muito, também, e talvez até mesmo te permitas tomar alguns desses comprimidos para disfarçar a dor. Claro que no começo, pouco depois de acordar, olhando à tua volta a paisagem de todo dia, sentirás atravessada não sabes se na garganta ou no peito ou na mente - e não importa - essa coisa que chamarás com cuidado, de "uma ausência". E haverá momentos em que esse osso duro se transformará numa espécie de coroa de arame farpado sobre tua cabeça, em garras, ratoeira e tenazes no teu coração. Atravessarás o dia fazendo coisas como tirar a poeira de livros antigos e velhos discos, como se não houvesse nada mais importante a fazer. E caminharás devagar pela casa, molhando as plantas e abrindo janelas para que sopre esse vento que deve levar embora memórias e cansaços.

Contarás nos dedos os dias que faltam para que termine o ano, não são muitos, pensarás com alívio. E morbidamente talvez enumeres todas as vezes que a loucura, a morte, a fome, a doença, a violência e o desespero roçaram teus ombros e os de teus amigos. Serão tantas que desistirás de contar. Então fingirás - aplicadamente, fingirás acreditar que no próximo ano tudo será diferente, que as coisas sempre se renovam. Embora saibas que há perdas realmente irreparáveis e que um braço amputado jamais se reconstituirá sozinho. Achando graça, pensarás com inveja na largatixa, regenerando sua própria cauda cortada. Mas no espelho cru, os teus olhos já não acham graça.

Tão longe ficou o tempo, esse, e pensarás, no tempo, naquele, e sentirás uma vontade absurda de tomar atitudes como voltar para a casa de teus avós ou teus pais ou tomar um trem para um lugar desconhecido ou telefonar para um número qualquer (e contar, contar, contar) ou escrever uma carta tão desesperada que alguém se compadeça de ti e corra a te socorrer com chás e bolos, ajeitando as cobertas à tua volta e limpando o suor frio de tua testa.

Já não é tempo de desesperos. Refreias quase seguro as vontades impossíveis. Depois repetes, muitas vezes, como quem masca, ruminas uma frase escrita faz algum tempo. Qualquer coisa assim:
- ... mastiga a ameixa frouxa. Mastiga , mastiga, mastiga: inventa o gosto insípido na boca seca ...