quinta-feira, 7 de março de 2013

Ausência

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces.
Porque nada te poderei dar senão a magoa de me veres eternamente exausto.
No entanto, a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida e eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados.
[...]
Eu deixarei... tu irás e encostarás tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas, tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande intimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essencia do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos.
Mas eu te possuirei mais que ninguém porque poderei partir e todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.

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