terça-feira, 7 de agosto de 2012

Vil, reles, ridiculo!

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos tem sido campeões em tudo.
E eu tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
E eu tantas vezes irrespondivelmente parasita, 
indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes, não tenho tido paciência nem pra tomar banho.
Eu, que tantas vezes, tenho sido ridiculo, absurdo,
que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante.
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
que quando não tenho calado, tenho sido mais ridiculo ainda;
[...]
Eu que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado, para fora da possibilidade do soco.
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridiculas, eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridiculo, nunca sofreu enxovalho,
nunca foi senão principe -todos eles principes- na vida.

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os ouço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?

Ó principes, meus irmãos!
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?????????????

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra? [...]
(Alvaro de Campos)

Nenhum comentário:

Postar um comentário