sexta-feira, 19 de março de 2010

Olavo.- Luana A.


Para meu avô materno, Olavo.


Oi Vô. Tudo bem ai no lado bom da vida?! Vim expressar-lhe sentimentos meus.

Enquanto vivo a gente nunca brigou e sempre nos demos bem. O senhor morreu quando eu tinha 10, 11 anos, eu era uma criança não tinha noção do tamanho de importancia que teve essa morte. Passado alguns anos cai a ficha e eu choro pela sua perda. Choro pela saudade que tenho do senhor.

Lembro quando o senhor quebrou o braço jogando bola comigo, lembro quando o senhor dava halls pro nosso cachorro da época, lembro quando o senhor falava do espirro da minha vó que derrubava o cachorro que tava na esquina fazendo xixi no poste, lembro da gente montando as luzinhas de natal no nosso quintal, lembro de quando a gente brincava de forca ou de jogo da velha e voce dizia que era o jogo da minha vó (velha), lembro das suas piadas, as mesmas piadas e que eu sempre ria como se tivesse sido a primeira vez que havia ouvido, lembro de quando o senhor me deu um atari, lembro de quando a gente ia pra casa de Caconde (interior de Minas) e andavamos de bicicleta no quintal da casa e quando a gente ia nas fazendas vizinhas pegar laranja no pé ou ver as vacas e os bois.

Lembro quando o senhor adoeceu, lembro que de começo era só uns surtos psicológicos,lembro quando a doença começou a ficar pior e o senhor começou a perder os movimentos básicos e caiu da escada, lembro que fui eu que vi o galo e o roxo na sua cabeça desse dia, lembro que por conta disso a gente teve que se mudar pra uma casa terrea ou um apartamento porque o senhor não conseguia mais andar. Lembro quando o senhor teve que ser internado porque a situação estava muito dificil pra gente continuar a te deixar em casa, lembro que o senhor começou a fazer quimioterapia e varios exames. Lembro que o senhor teve que fazer uma cirurgia na cabeça e nesse dia minha vó estava em casa ouvindo a radio que o Padre Marcelo apresentava, rezando. E a força foi tanta que o Padre conversou com ela. Lembro até das palavras dele: ''Tenho uma amiga Senhor, ela está com o marido muito mal no hospital agora no meio de uma cirurgia séria, Senhor. Sim, Senhor. Claro, senhor! Minha amiga, ele tá bem. Seu marido está bem e vai ficar bem. Ela vai sobreviver a essa cirurgia!''.

Lembro que minha mãe evitava levar a gente no hospital vê-lo porque o senhor não lembrava de nada, nem de ninguém, não falava e não respondia a nenhum estímulo. E lembro que um dia eu fui visita-lo no hospital. Lembro do hall do hospital, do corredor que levava até o seu quarto e lembro do seu quarto. Lembro que entrei no quarto, vi minha vó sentada num sofá acinzentado, pequeno e baixo que ficava em baixo da janela e ao lado do banheiro que era logo em frente a porta de entrada do quarto, vi a tv ligada na novela das 20h e minha tia em baixo dela, meu pai estava andando de lado à lado, as janelas estavam fechadas, meia luz acesa, aquela luz de brilho alaranjado. Não me lembro aonde estava o meu irmão, acho que meu irmão não tinha ido nesse dia.

Minha mae disse: ''Fala 'oi' pro vovô, filha''. Era notável o tom de tristeza na voz da minha mãe. Eu disse ''oi''. O ''oi'' mais empolgado que já dei na vida. Mesmo sendo criança, eu sabia o que tava acontecendo, só não entendia. Não entendia porque as vezes via minha vó ou minha tia chorando, não entendia porque minha mãe chegava tarde em casa, não entendia porque quando ia à casa da minha avó meu avô não estava e não entendia o motivo dele estar no hospital.

Com um ''oi'' repleto de alegria infantil, cheio de saudade e um carinho na mão, eu olhei para você, olhei para seus olhos. Com os olhos arregalados, a boca aberta, testa franzida, sem cabelo, voce retribui o olhar. Mas, vi uma expressão estranha, desconhecida. Senti um olhar distante e cheio de dúvidas. Quem é essa criança? Do que ela me chamou!? Vô!? O que é vô!? Quem são essas pessoas?! Da onde elas surgiram!? O que eu to fazendo aqui!? O que é aqui!? QUEM SÃO VOCES?!? O senhor só murmuriava. E dormi com o seu murmurio. Fui acordar em casa.

Essa é minha ultima imagem sua. Porque não fui no velório e nem no enterro. E essa foi a decisão da minha mãe, não levar nem eu nem meu irmão. Não sei se concordo com isso. Mas, ainda tenho suas fotos e lembranças na minha cabeça. Acho que isso me basta para seguir em frente e feliz. Saber que o senhor existiu, que fez minha felicidade enquanto criança, que me fez rir me conforta. Mas nada impede a imaginação de como seria você aqui agora! Quando fiz meus 15 anos, meu primeiro namorado, quando me mudei de escola pela primeira vez, quando me mudei de casa, a morte dos nossos cachorros que o senhor tanto gostava, meu primeiro amor, meu piercing, meu show com minha banda, meus empregos, meu primeiro show, quando passei de ano sem nenhuma recuperação, quando entrei no ensino médio, quando fiz 18 anos, quando passei em duas faculdades, quando escolhi o que quero pra minha vida profissional! Queria ver como o senhor estaria agora! Será que o senhor estaria fazendo ginástica junto com a minha vó? Ou será que o senhor estaria trabalhando como sempre!?? O senhor nunca parava quieto! Como o senhor estaria hoje fisicamente!? Magrinho como sempre? Careca? Cabelos brancos?! De bengala!? Será que estaria fumando ainda?! Só imaginação.

E dessas imaginações eu vou vivendo e me conformando, infelizmente. Queria ter podido ter parado o tempo em todos os momentos em que estávamos juntos, só para poder ter mais lembranças suas a cada dia que passasse. São sete anos. Sete anos de saudade e 18 anos de amor!



Eu te amo muito Vô!

(15/11/2009)
 
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

Bom, tava dificil escolher um texto pra postar hoje aqui! Ai pedi a ajuda de amigas minhas, passei a quantidade de numeros de textos e elas escolheram. E o numero desse texto foi o 4!

Foi uma ótima escolha inconsciente! Eu adoro esse texto, modéstia a parte! Sem contar que me emociona muito toda vez que o leio!! : /

Mas é isso!!!

Beijoss

Nenhum comentário:

Postar um comentário